terça-feira, 7 de junho de 2011

Três obras de Gilberto Braga no Ar


A programação de TV tem dessas coisas. Os fãs de Gilberto Braga vivem um momento único. Dá para passar a noite inteira assistindo só aos trabalhos do escritor. Começa com “Insensato coração’, na Globo. Depois, no Viva, emenda-se “Anos rebeldes” e “Vale tudo”. Um curso intensivo de Gilberto Braga, diariamente, a partir de 9 da noite.


“Vale tudo” vive seus momentos finais. Amanhã, vai ao ar o capítulo 176. A novela teve 204 capítulos. Começa a ser armada a trama que culmina com o assassinato de Odete Roitman. Uma trama para o melhor dos escritores de romances policiais não botar defeito. É impressionante como, agora, assistindo-se à reprise da novela, percebe-se que “Vale tudo” não teve um só período de embromação. Quer dizer, os autores podem até identificar aqui ou ali um momento em que a trama não foi para a frente. Mas o espectador não. Do começo ao fim, do primeiro ao último capítulo, Gilberto Braga _ no caso, em parceria com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères _ esteve sempre avançando sua história. De uma maneira ou de outra, todos os personagens se envolviam e estavam envolvidos na trama principal. Havia tramas paralelas, é claro, mas a trama principal era tão forte que elas nem eram muito percebidas. “Vale tudo” é uma novela de época. Tão de época, que o teste de DNA ainda era chamado de ADN. Mas provou-se atualíssima. Fala de um Brasil do tempo da hiperinflação, das aplicações de overnight, das correções monetárias feitas por OTNs. O Brasil de hoje é outro. Mas fala também de ética e, neste ponto, é triste admitir que o país não mudou muito. Ainda hoje, vale tudo.
“Anos rebeldes” são outros quinhentos. O mundo ideal de todo autor de novela é um mundo em que só haja minisséries ou em que ele possa contar em 20 capítulos uma história que, na maioria das vezes, é obrigado a contar em 200. Em “Anos rebeldes”, Gilberto Braga foi além. Trouxe, pela primeira vez, para a televisão a história do Golpe de 64 como pano de fundo de uma irresistível história de amor.
Como já tinha feito em “Anos dourados” e fez depois na pouco valorizada “Labirinto”, Gilberto Braga provou que um mês no ar, com capítulos diários, é o tempo ideal para uma história ser bem contada. Foi tempo suficiente para se desenvolver uma trama complexa com personagens marcantes.
Mas, assistindo-se ao mesmo tempo aos três trabalhos _ “Vale tudo”, “Anos rebeldes” e “Insensato coração” _, nota-se que Gilberto Braga é mais original justamente em “Insensato...”. Não é a obra mais bem-sucedida das três. Nem por isso pode-se falar em fracasso. Na verdade, a novela, uma parceria com Ricardo Linhares, vem obtendo, com freqüência, índices de audiência no Ibope superiores a 40, o que comprova a adesão do público. Mas ela provoca uma estranheza, sem dúvida. “Insensato coração” aproxima-se do formato do seriado americano. Como no seriado, não há uma trama central. Há um grupo de personagens fixos que vivem situações diferentes a cada episódio. Na novela, um episódio de seriado equivaleria a uma minitrama de 10 ou 20 capítulos. Como no seriado, há participações especiais que saem de cena quando perdem sua função. E os personagens fixos permanecem para viver outras situações.
Não se pode negar que poucas vezes a teledramaturgia brasileira produziu uma novela com tanta ação. Para quem vive reclamando de que nada acontece nas novelas... Dono de um domínio completo das técnicas de dramaturgia, como pode ser atestado em “Vale tudo” e “Anos rebeldes”, Gilberto Braga parece querer inovar. E há mesmo algo de novo em “Insensato coração’’. Só que também fica a impressão de que este “novo” ainda não encontrou a forma ideal. Deu certo. O Ibope comprova. Mas “Insensato coração” tem jeito de um protótipo do que ainda virá a ser uma novela.

Artur Xexéo

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