sábado, 4 de junho de 2011

Por onde anda a atriz Aldine Müller?

Quando foi convidada para seu primeiro papel de destaque no cinema, Aldine Müller, então com 24 anos, achou que ia encontrar o glamour de Hollywood. Figurante da TV Tupi, recém-chegada do Sul, Aldine levou um choque ao se deparar com a Boca do Lixo paulistana, onde atrizes e prostitutas se confundiam nas ruas. Mas decidiu seguir em frente e se entregou de corpo – belo corpo, aliás – e alma ao cinema, em especial às pornochanchadas, não à toa transformando-se em uma das musas do gênero.


O filme era “Clube dos Infiéis” (1974), também o primeiro da carreira de Cláudio Cunha. Logo ela ficou sabendo que haveria nudez. “Tinha uma cena de sexo na estrada, e Cláudio disse que eu iria precisar tirar a roupa. Não pensei duas vezes e fui tirando, aí ele disse: calma, é só na hora da cena’”, lembra Aldine, que nunca teve problemas em mostrar o corpo. “Fiquei conhecida como a atriz que tirava a roupa e não chorava (risos). Queria mais era pegar meu dinheiro e ir embora.”



Na época, Aldine tinha um namorado e não contou para ele que o filme era, digamos, picante. “Ele só descobriu dentro do cinema, no dia da estreia, e ficou passado. O namoro acabou ali. Minha carreira sempre foi mais importante. Já quiseram me levar para morar em Paris e não quis. Nunca deixei homem nenhum atrapalhar minha carreira.”


O que mais abalou Aldine em seu início de carreira foi mesmo a reação da família. “Sou filha de italianos, com mãe beata. Meu pai ficou um tempão sem falar comigo”, diz a atriz, que casou e engravidou aos 16 anos para poder sair de casa. “Eu tinha um projeto de ser atriz desde menina”. O plano deu errado. Aldine perdeu a guarda do filho, César, quando decidiu tentar a vida em São Paulo.


“Dos nove meses aos sete anos ele ficou com a família do pai. Só me devolveram a criança quando meu marido morreu”, lembra a atriz, que mais tarde sofreu com o envolvimento do filho com drogas na juventude, problema há muito superado. Hoje, César está com 40 anos, é publicitário e tem três filhos, xodós de Aldine. A relação com o pai também se acertou. “Ficamos grandes amigos, e passei as últimas três horas de vida dele ao seu lado. Ajudei-o a descansar”, diz, emocionada.
O sucesso como musa da pornochanchada – são mais de 20 filmes no currículo – foi uma faca de dois gumes para a atriz que “tirava a roupa e não chorava”. Se por um lado, levantou a bandeira da liberação da mulher – “Longe de me considerar uma Leila Diniz, mas sei que quebrei barreiras”-, por outro colocou-a na posição de mulher-objeto. “Comecei a me sentir um pedaço de carne no açougue. Os homens me comiam com os olhos, então passei a me vestir como freira. Se alguém vinha falar comigo, eu dizia que não era a Aldine.”


Em crise, Aldine começou a fazer terapia e deu um tempo nos filmes “pornô água com açúcar”, como ela mesma chama. Dedicou-se ao teatro e à TV, tendo feito novelas como “Sassaricando”, “O Salvador da Pátria”, “Rainha da Sucata” e o remake de “Escrava Isaura”, e humorísticos como "Escolinha do Professor Raimundo".


Atualmente, com 57 anos e 32 de carreira, Aldine diz não ter saudade da juventude. “Tenho o mesmo peso que tinha aos 20 e nenhuma celulite”, orgulha-se a atriz, que faz academia, ioga, alongamento e é contra tratamentos de beleza que alteram a fisionomia, como botox e plástica.



“Gosto de me olhar no espelho e me reconhecer. As mulheres estão se deformando, o legal é fazer algo que não dê bandeira”, conta Aldine, casada há dez anos com o publicitário Rogério Kihara. “Mas vivemos em casas separadas. Nem a empregada é a mesma, não dá certo.”




A carreira também vai muito bem: Aldine está em cartaz com a peça "Virgem de 40 anos.com", em São Paulo. No Rio de Janeiro, os fãs podem matar as saudades dela e de outras musas com a mostra "20X Pornochanchada", na Caixa Cultural, que termina neste domingo, 22 de maio, com exibição de filmes da época e exposição de cartazes.


A vantagem da maturidade, para Aldine, é não engolir mais sapos, como acontecia antigamente. “Tenho minha própria companhia de teatro. Faço os personagens que quero. Digeri todos os sapos que engoli, não me arrependo de nada nem tenho vergonha do que fiz.”


EGO

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