quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Chico Anysio:'Fazedores de História'

Prestes a completar 80 anos, Chico Anysio, que saiu há três meses do hospital (onde passou 19 dias internado), lança seu 22 livro, “Fazedores de histórias” (Editora Prumo, R$ 24,90). A obra traz 32 contos sobre a vida, e o autor afirma não ter medo da morte:


— Se eu tivesse, só iria dificultar a coisa, né?


No ar em “Zorra total” e fazendo participações em três espetáculos de humor (“Chico.Tom”, “Tal pai, tal filho” e “Eu conto e vocês cantam”), o escritor, ator, diretor e pintor fala nesta entrevista ao Sessão Extra sobre trabalho, família, casamento e os planos para 2011.


De onde vem a inspiração para suas histórias?
A vantagem de ser humorista é ter que prestar atenção na vida. Mesmo quando a coisa é ruim, a vida é maravilhosa.


Nem todos os contos do livro são de comédia...
A comédia faz parte da minha vida. Tanto que faço participações em três peças de humor atualmente. Mas prefiro escrever coisas dramáticas. Isso é comum aos humoristas.


Seu filho Bruno Mazzeo está em um momento excelente na carreira. Vocês pensam em trabalhar juntos?
Não, porque o tipo de humor que eu faço é, para o Bruno, um humor superado. Não posso mudar isso nele: todos os amigos dele acham isso. Está dando certo, né? Eu não dou nem palpite no trabalho dele.


Como é a relação com os seus outros filhos?
A melhor possível. Filho devia ser escrito com ph. É uma coisa linda. Além dos verdadeiros, considero a Heloísa Périssé (ex-mulher de Lug de Paula) uma filha. A Renatinha (Castro Barbosa), que era casada com o Bruno, para mim é como se fosse filha também. Eu sou muito gostado pelo pessoal da família. Pena que eu sou um só.


Você palpita na vida deles?
No trabalho não dou palpite. Na vida, dou. Dou, porque tenho que formar grandes caras... todos são. Eu tenho nove filhos, sendo oito homens criados no Rio, no meio da televisão. Nenhum é drogado, nenhum é alcoólatra, nenhum é mau-caráter. É muita colher de chá, né? Quando eu nasci, Deus disse: “Esse é o cara”. Isso foi quando eu nasci, não quando o Romário nasceu.


E os netos?
Eu acho que os netos não pertencem à família. Minha família é meu avô, meu pai, irmãos, minha mulher e meus filhos. O filho faz a família dele. Netos são queridos, mas não têm que me obedecer, nunca disse para um neto “Não mexa nisso” ou “Cuidado com isso aí”. Não dou palpite, porque não sei se o palpite que dou é igual ao que o pai e a mãe dão. E aí eu posso criar problema. Mas dou muitos presentes e adoro todos eles.


Eles visitam você?
Não. Deviam vir, né? Vão se arrepender de não vir depois.
 Um filho com a Malga está nos planos (Chico Anysio é casado há 11 anos com a empresária Malga Di Paula, de 40 anos)?
Quando casamos, ela disse que não queria filhos. E eu falo para ela que se eu morrer ela vai ficar aí. Ela diz que eu não vou morrer. Eu queria guardar esperma em um banco, para que a Malga pudesse fazer uso depois que eu morresse. Mas ela não deixa.


Depois desse tempo todo juntos, você pode dizer que ela é a mulher da sua vida?
É. Acho que eu merecia. Porque eu tentei muito e não dava certo, até que a Malga apareceu.


A diferença de idade não atrapalha? Qual o segredo do casamento?
Engraçado, tem uma diferença de idade, você lembrou agora. Eu nem lembro. O casamento é a arte da concessão. Tem que ceder sem ficar de cara feia. Faço o que eu quero, ela não reclama de eu ver futebol, luta, corrida de cavalo na TV. Eu passo a tarde vendo isso e ela do meu lado, com o computador no colo, escrevendo. Além disso, ela gosta dos meus filhos. Uma mulher casar com um cara 39 anos mais velho, que tem nove filhos, é duro.




Você falou de TV. O que mais gosta de ver na telinha?
Não vejo TV aberta porque não posso falar sobre os programas, por força de contrato. Gosto muito do seriado “Two and a half men”, de esporte, do canal Viva (a “Escolinha do Professor Raimundo” está sendo reprisada pelo canal) e de filmes de ação.


Do que mais gosta entre tudo isso que você faz: pintar, escrever, atuar e criar?
Ah, de atuar.


Esse ano, ter voltado para o “Zorra total” foi motivo para comemorar?


Foi, foi bom. Eu queria ter autonomia, fazer o que eu quero, e eu faço o que o Maurício (Sherman, o diretor) quer. Não é que o Maurício queira nada errado, mas para mim as pessoas falam do meu trabalho, para ele, falam do programa em si. E eu escuto pedidos de personagens, então eu queria ter o poder de dizer que vou passar dois meses fazendo esse personagem, entende? Eu vou conversar isso com ele (risos).


Como está a saúde depois do susto que levou recentemente (em agosto, ele ficou internado com um quadro de hemorragia digestiva)?
A saúde está legal, o problema é a idade. Depois dos 70 anos, a Marieta Severo que disse: “Se acordar sem sentir nada, está morto”. Eu parei de fumar há 26 anos, mas o mal que o cigarro faz é para sempre. Eu tenho 40% do pulmão. Dou cinco passos e fico cansado, uso cadeira de rodas, senão levo meia hora para chegar aos lugares.


Teve medo de morrer?
Não. Se ter medo de morrer transferisse ou evitasse alguma coisa, eu até teria, com o maior prazer, mas se eu tivesse só iria dificultar a coisa, né?


Quais são os planos para o futuro?
Estou gravando um especial de Ano Novo. Eu e Milton Gonçalves, só. Olha, se eu não estiver enganado, é a melhor coisa que eu já fiz na TV. Vai ao ar dia 28 de dezembro. De resto, costumo dizer que aceitei todos os convites de filme que tive. Mesmo assim, só fiz seis. Gostaria de fazer um filme assim como o “Muito além do jardim”. Acho até que eu poderia fazer direito. Com o Daniel (Filho).


Fonte:Sessão Extra

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