terça-feira, 16 de novembro de 2010

As Cartas Psicografadas de Chico Xavier

A diretora Cristiana Grumbach estava num jantar quando ouviu um conhecido contar sobre uma sessão de mensagens psicografadas por Chico Xavier. Ao imaginar como seria receber uma carta do avô, ela quis entender o que sentiam aqueles que receberam notícias dos seus parentes mortos. A ideia virou filme. E o documentário “As cartas psicografadas de Chico Xavier”, que entrou em cartaz na sexta-feira, acabou lhe ensinando muito mais do que imaginava.


— Escolhi ouvir mães que receberam cartas psicografadas de seus filhos e mostrar na tela o relato delas. Foi muito difícil, porque estava esperando meu primeiro filho, Tomé, e ouvindo as histórias delas. Aprendi ali a experiência da maternidade — lembra Cristiana sobre as filmagens feitas em 2007.




Em 2008, a mãe de Cristiana morreu de câncer (o filme é dedicado a ela). E no ano seguinte, ainda finalizando a obra, a diretora foi surpreendida com a gravidez do segundo filho, Ian.


— Não sou espírita. Mas algo mudou em mim. Era cética. Para mim, a morte era o fim. Hoje, não sei — diz: — Esse ponto do trabalho do Chico salvou a vida de muita gente, por dar palavras ao vazio.



A carta de Augusto Cezar (leia abaixo na íntegra), direcionada a Yolanda, a primeira mãe a aparecer no filme, é a que mais emociona a diretora. Mas Cristiana tirou lições que norteiam sua relação com os filhos de todas as entrevistadas:


— Piedade, uma das mães, fala: “Os filhos são nossos, cuidamos e educamos, e eles vão seguir o caminho deles”. O desapego é uma sentença a ser seguida.


Veja aqui a carta de Augusto Cezar na íntegra:


"Minha mãe, minha querida mamãe, aqui não é muito diferente daí, embora seja diferente daqui. Explicar como é isso, não sei ainda. Parece, mamãe, que a vida é como um rio. As águas do tempo nos levam para adiante e a gente vai seguindo, fazendo o que pode para não submergir e trabalhar de algum modo na
viagem. Será que esta imagem me ocorreu por lembrar aquele dia, aquele dia que nós não queremos lembrar?


Graças a Deus, vejo-a firme e valorosa, vivendo e servindo. Não avalia o que foram os primeiros tempos, as suas aflições e as suas angústias. Suas palavras de pergunta e de dor, buscando saber a razão do que acontecera me feriam profundamente, porque eu desejava explicar, sem conseguir expressar-me. Se o seu coração querido se colcar em lugar do meu, saberá como doíam aquele pranto e aquelas orações sentidas que recebia de seu carinho, ante o meu retrato e à frente do lugar onde as últimas lembranças ficaram entre nós. Não julgue que eu não ouvia. Chorei com as suas lágrimas por muito tempo. E quando as suas primeiras esperanças vieram surgindo na alma, aceitando realmente a vida além da morte, a luz nascente em seu amor foi também minha luz.


Agradeço hoje por tudo. A vida, mãezinha, é também uma espécie de livro em que lemos a pouco e pouco as circunstâncias em que nos encontramos entrelaçados. Somos hoje uma família maior. A princípio, quase quatro fevereiros de retaguarda, supúnhamos ser um grupo único em nosso bairro feliz de São Paulo. Depois, semana a semana, fomos descobrindo que somos muitos. Hoje costumo rir de mim mesmo. Fantasiava escrever uma carta, revelando detalhes de casa e família.


Mas, antes que eu pudesse grafar o que pensava, eis que o Chico veio a nós. Temos tudo em comum. Os conhecimentos do lar e os entes amados. Não consegui transitar nos fenômenos, para reconhecer que o maior fenômeno é um profundo amor que nos reúne uns aos outros. Hoje, como antigamente, sinta-me chegando devagarinho para um abraço do coração. E ouça-me de novo a dizer: mamãe, eu estou com muita saudade de você, mas com muita saudade de você. Seu sorriso me iluminará como acreditando ou não acreditando no que eu dizia, para acentuar ainda mais o meu desejo de abraçá-la. Mas abraçando a meu pai e a todos os nossos no carinho que trago ao seu carinho, posso repetir: mamãe, é mesmo, eu estou com muitas saudades de você. Mas o meu coração está com o sei coração para sempre.


Sempre seu, Augusto César."

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