sexta-feira, 18 de junho de 2010

True Blood


No próximo dia 27, um domingo, às 22h, a HBO estreia no Brasil a terceira temporada de “True Blood”, uma das séries de televisão mais badaladas do momento. A atração mostra a turbulenta convivência entre seres humanos e vampiros, que tentam viver em sociedade após os japoneses criarem uma bebida que reproduz o sangue.

No centro do seriado está Sookie Stackhouse (Anna Paquin), uma garçonete com a habilidade de ler mentes que se apaixona por Bill Compton (Stephen Moyer), um vampiro que deseja viver em harmonia com os humanos. Porém, “True Blood” não é uma simples história de amor aparentemente impossível. Esqueça a histeria adolescente da saga “Crepúsculo”. O casal de protagonistas serve apenas como ponto de partida para expor uma sociedade intransigente com relação a opiniões, atitudes, crenças e modo de ser que fogem do senso comum.

A série é uma criação de Alan Ball, o mesmo de “A Sete Palmos”, outra atração aclamada da HBO. Homossexual assumido e um dos principais porta-vozes da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais) norte-americana, ele aproveita uma lenda milenar para discutir temas atuais como diversidade e opressão religiosa.

Para fugir do discurso panfletário, Ball utiliza o cinismo, recurso já utilizado no roteiro do filme “Beleza Americana”, também de sua autoria. “True Blood” pode ser encarada como uma excepcional sátira ao preconceito.

Com luxúria e cinismo, “True Blood” apresenta uma excepcional sátira ao preconceito
A série é ambientada em Bon Temps, uma cidadezinha caipira perdida no sul dos Estados Unidos. Situar uma discussão sobre preconceito em uma região notadamente conhecida pela intolerância revela um senso de humor peculiar. Aparentemente, as situações absurdas que surgem desta ambientação parecem diminuir a importância do debate proposto por Ball. No entanto, tornam a discussão ainda mais atraente. O roteirista expõe a natureza do individualismo frente ao desconhecido em um mundo cada vez mais suscetível a estereotipar as pessoas.

Além do cinismo, outra característica marcante de Ball aparece em “True Blood”: o sexo. A série define seus personagens através da sua sexualidade. O roteirista utiliza o comportamento dos vampiros, desregrado com relação aos prazeres da carne, para discutir as graves consequências da opressão sexual. “True Blood” revela que, em pleno século XXI, algo tão intrínseco ao ser humano ainda é tratado como uma rebeldia. Para muitos, o sexo ainda é visto como uma forma de transgressão.

A série repete “Beleza Americana” ao criticar o conformismo da sociedade contemporânea. Por mais que todos desejem e adotem o discurso da liberdade, a necessidade de se encaixar aos padrões sempre fala mais alto. Os vampiros, invejados pela sua capacidade sexual, querem conviver harmoniosamente com os humanos. Estes, por outro lado, querem extravasar seus desejos, mas se sentem oprimidos por regras sociais e religiosas.

Após assistir à “True Blood”, fica a impressão que a tolerância apregoada atualmente é apenas mais uma forma de se encaixar em uma sociedade construída para oferecer uma angustiante e falsa sensação de segurança

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