quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sandálias da humildade para Tempos Modernos, que de moderno tem muito pouco...


A novela Tempos Modernos além de ir mal no IBOPE, tem a pretensão de ser um texto com linguagem e enredo inovadores, uma história fora dos padrões tradicionais dos folhetins globais como tentou ser Bang Bang e As Filhas da Mãe no mesmo horário.Mas, ao contrário das tramas de Mário Prata e Sílvio de Abrêu, Tempos Modernos não tem nada de novo, pior, nada mais é que o resultado de um roteiro desorientado, sem ganchos, sem carisma, sem graça.

A impressão que tenho é que o elogiado Bosco Brasil escreve sua primeira novela-solo para seu próprio deleite ou para uma panelinha de amigos do elenco e da direção, o grande público que se lixe.

Outro dia, ouvi uma declaração da atriz Eliane Giardini, dizendo que ela também não se importava com o insucesso da novela, que sua satisfação em participar da obra era igual de quando participou de Eterna Magia, que segundo ela, não foi tão bem na audiência, mas foi muito bem realizada.Em parte ela tem razão, a novela de Elisabeth Jhin foi excelente, mas o mesmo não se aplica agora.Por sinal sua personagem Hélia é uma professora de dança chata de galochas, vazia, mimada, que engana o filho adulto sobre sua paternidade e curte estapear as caras alheias, quando é contrariada.Simples assim...um novo método de resolver problemas.

São muitos absurdos como revelar aos demais personagens depois de tantas décadas, que o ex-dono do edifício Titan é analfabeto.Muita verossimilhança, ninguém esse tempo todo, nunca desconfiou, aliás ele consegue ser um analfabeto que profere um português corretíssimo, incomum linguajar para um ignorante.

Esquisitice e esnobismo pouco é bobagem também. A cantora de ópera Ditta, interpretada por Alessandra Maestrini, num capítulo recente foi comunicada que teria que pagar uma multa milionária, porque desfez um contrato com uma companhia norte-americana.E o que importa isso?Nada.Só para comunicar que ela é cultíssima e riquérrima.

O batismo do nome dos personagens algo bem popular como:Zuppo, Gaulês, Bodanski, Tertuliana, Justine, Led Piñon, Niemann, Deodora, Katrina, Faustaço, Fidélio, Zapata...muita referência intelectual...leia e você transmitirá muito conhecimento...acho que é bem por aí o lema do bem-sucedido autor de teatro que agora é o atual titular das 7.

Realmente é uma partilha de informações bem assimiladas pelos espectadores, algo muito compreenssível por meia-dúzia da plateia.

Não pára por aí...nos diálogos poesias, menções científicas, canções líricas, jazz.Cenários com galeria do rock, prédio inteligente com computador-robô (?), tudo muito antipático.História que desperte atenção, nada.

A escalação do elenco também não ajuda.Alguns protagonistas perdidos como a Nelinha de Fernanda Rodrigues, a Deodora de Grazi Massaferra, o próprio Leal, personagem central vivido por Antonio Fagundes, que parece uma mistura de Bruno Mezenga com Juvenal Antena na atuação, menos no rei Lear de Shakespeare, em que é inspirado.Há de se destacar também vários atores inexpressivos em papéis mais insignificantes ainda.

Por fim para completar a tragédia, a falta de humor no folhetim.É tudo muito dramático, tenso, carregado nas tintas, com um moralismo que irrita.Falta humildade e leveza a Tempos Modernos, se queria ser diferente, ao menos que cativasse o público com algo mais palatável, não com esse modo estiloso, que de tão pretensioso fica burro e raso.

Só mesmo implodindo o Titã e começando tudo de novo, de novo...

4 comentários:

  1. Caro Breno, talvez o Senhor tenha razão quando insinua que os telespectadores da novela das 19h sofrem com falta de intelecto, em português claro: são burros.
    Sinto informar que a novela tem uma linguagem um tanto poética, quase teatral e, infelizmente, poucos a entende. Uma pena que o grande público não saiba apreciar. Apesar disso, muitos têm intelecto o suficiente para entender e apreciar a novela. Não são meia dúzia de nomes intelectuais que torna Tempos Modernos uma novela para os cultos.
    Com relação à magnífica interpretação de Eliane Giardini, Hélia Pimenta é uma das personagens mais ricas do folhetim e carrega uma forte carga dramática e cômica ao mesmo tempo. A personagem tem personalidade forte e é temperamental, movida quase sempre por impulso... bem estilo Almodovar!
    Confesso que algumas críticas são pertinentes, mas o texto supracitado cai no clichê populista!

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  2. Prezada, Mayra...respeito sua opinião,e a considero, tanto que está aqui publicada.
    Mas, houve um engano, não insinuei que os telespectadores da novela das 7 têm o intelecto fraco, e são 'burros'; quem disse isso foi você.
    Aliás, subestimar ou desprezar a sabedoria de quem quer que seja, sim, é um ato de burrice, de tirania, de complexo de superioridade.
    Cultura e conhecimento não se medem com riqueza ou pobreza material, a intenção é debater idéias, não políticas sociais, a crítica aqui, é sobre o desempenho de uma novela, que ainda não emplacou, sem querer desmerecer a equipe que a produz.
    E claro que a trama é compreendida sim pelo grande público, mesmo tentando ser mais arrojada.Não há acredito, tanto rigor no texto, que se não se traduza.
    Tempos Modernos é refinada, cult.Não digo nem que seja um defeito, mas não vejo também, nada que ela ofereça de tamanha qualidade ou relevância, que faça a maioria do público ter aquele compromisso diário de acompanhar a interessante saga do rei Leal e suas filhas, ah, sim, e de sua amante...a mulher a beira de um ataque de nervos, que atende pelo nome de Hélia, tão tragicômica...
    E de mais a mais, viva a liberdade de expressão...de criação, foi uma tentativa de se inovar com muito esmero e classe o rumo de um folhetim, apesar de continuar achando uma história pedante sem muito interesse.
    Obrigado por sua participação!

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  3. Breno, agradeço a consideração e publicação da minha opinião.
    Entendi melhor seu ponto de vista através da sua resposta.
    Com certeza cultura e conhecimento não se medem por questãos de cunho financeiro. Talvez tenha lhe interpretado mal em virtude de suas palavras, as quais peço licença para reproduzir aqui:
    (...)"Realmente é uma partilha de informações bem assimiladas pelos espectadores, algo muito compreenssível por meia-dúzia da plateia" (...)

    Como exposto anteriormente acho parte de suas críticas bastante pertinente e outras nem tanto. Mas aí é questão de gosto, opinião.

    Obrigada pela resposta e cordialidade!

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  4. Sinta-se livre para expor sua opinião, Mayra.Para mim foi um prazer contar com seu comentário...idéias são para serem debatidas mesmo, contestadas.Dialogar é o que realmente vale.
    Compreendi o trecho de minha crítica, que você acaba de citar, como dúbio, realmente.
    Embora, quisesse dizer, que aquele texto da referida novela só satisfaz a meia-dúzia dos que assistem...enfim...
    Bem, no mais, esqueçamos as formalidades, agradeço sua participação, e ficaria feliz em sempre poder contar com sua presença e observação.
    Fique a vontade para criticar, sugestionar...
    Abraço e nada a agradecer!

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